Marilucia Ferreira participou, em São Paulo, do Seminário “Refletindo sobre convivência na escola: das violências diversas aos valores sociomorais”, promovido pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fundação Carlos Chagas, no dia 30 de outubro. O objetivo do evento foi de refletir, mediante relatos de pesquisa e de experiências escolares, aspectos da convivência na escola relacionados a conflitos, bullyiing, uso de drogas, qualidade do clima escolar e adesão a valores sociomorais e, além disso, discutir possibilidades de convivência ética na escola. O Seminário foi realizado com base em uma pesquisa feita com crianças e adolescentes, pelo próprio Departamento.
Leia abaixo um relato da consultora Marilucia Ferreira sobre o Seminário:
A PESQUISA NOS AJUDA A VER
Participei do Seminário Refletindo sobre convivência na escola: das violências diversas aos valores sociomorais, ocasião em que foram apresentados os resultados da pesquisa realizada com as crianças e os adolescentes. Ficou evidenciado que as crianças e os adolescentes aderem aos valores de modo egocêntrico ou, no máximo, sociocêntrico, pois são dependentes da imposição da autoridade e de regras rígidas, assim, ficou claro que os valores sociomorais precisam estar presentes e vivenciados nas relações sociais cotidianas para que sua necessidade seja legitimada pelas próprias crianças.
Em meu comentário sobre o Simpósio, neste momento, darei ênfase à abordagem do conflito como motor da aprendizagem dos alunos, da família e de seus professores e, pautada na pesquisa citada, afirmo que no contexto escolar, em uma conversa sobre comportamento de alunos, não é raro escutarmos “esse menino não tem jeito” ou ainda “também, a família não faz nada”, ou, por outro lado, as famílias, “vocês não resolvem esse problema, vou ao conselho tutelar ou processá-los”, “ou a escola muda meu filho de turma ou ele sairá daqui” e, assim, os argumentos colaboram para que o objeto ou o cenário em estudo seja camuflado perante tantas “variáveis”. Não desconsidero esses argumentos, mas eles têm como função o entendimento, pois esses dados nos ajudam a compreender, a interpretar e estudar o problema e, talvez, chegarmos às causas, e não para escondermos ou mesmo para afirmarmos que não há solução.
Em uma de suas colocações, Luciene Tognetta, pesquisadora da UNESP, destacou:
[…] o conflito pode unir as pessoas e não apenas distanciá-las, portanto, podemos utilizar o conflito como fonte de aprendizagem.
Entendo a pesquisa como um dos pilares que ilumina as decisões para um plano de ação com foco na resolução ou enfrentamento do conflito. Mas, as equipes de profissionais da escola precisam agir para possibilitar a transformação desse ser humano e, consequentemente, do ambiente.
Vejamos um trecho retirado do caderno de pesquisa: Avaliando valores em escolares e seus professores:
[…] A formação de personalidade ética não ocorre por transmissão direta, nem é decorrente de um desenvolvimento maturacional, mas sim de um processo de construção nas interações do sujeito com o meio. Para que esse desenvolvimento ocorra, é necessário que a criança possa fazer experiências morais. Por exemplo, não se aprende justiça apenas com lições ou teorias sobre os assuntos, mas experienciando relações em que regras são realmente necessárias e valem para todos, em que há vivência se situações de justiça forem pautadas na igualdade e equidade. O mesmo é válido para o respeito mútuo, o diálogo e solidariedade […].
Neste momento, coloco abaixo situações para provocá-los a uma reflexão.
CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA: Na escola, as regras estão pautadas nos valores da instituição? Todos os envolvidos no processo estão cientes dos princípios da escola?
RESPEITO: Em sua escola o aluno diz “minha mãe falou que você não manda em mim”?
JUSTIÇA: Em sua escola existe a roda do diálogo? Como ser justo sem conhecer e conversar sobre as regras do convívio em comum?
SOLIDARIEDADE: A família e a escola estão contribuindo para que a criança perceba a importância de se colocar no lugar do outro?
Vinha (2000) diz “não adianta tentarmos ensinar moralidade, pois ela é construída a partir da interação do sujeito com o meio em que vive” e Menin (1996) ao falar em solidariedade ressalta: “Só se aprende fazendo”.
Agradeço ao grupo por nos fornecer dados para ampliar nosso olhar e parabenizo as coordenadoras, Marialva Tavares e Maria Suzana Menin; os pesquisadores, Luciene Togneda, Patrícia Batacla, Raul Aragão, Telma Vinha; os estatísticos, Dalton Andrade, Miriam Bizzochi, Raquel Valle e o assistente de pesquisa Adriano Moro, pela belíssima apresentação.