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O jornal Folha de São Paulo publicou recentemente uma reportagem sobre algumas famílias que decidiram tirar seus filhos das escolas tradicionais. Foram mostradas várias situações diferentes, mas todas sem conexão com uma grade curricular fixa: a proposta é dar vazão para que as crianças aprendam de acordo com seus interesses. Por mais que os pais se preparem, e a seus filhos, acho que esta decisão traz mais prejuízos que benefícios.
Em relação à convivência, longe da escola a criança poderá se afastar de um meio em que profissionais pensam em perguntas e organizam grupos para despertar o interesse dos pequenos por algo que no dia a dia não daria conta. É preciso conviver com a “contradição” para respeitar a todos, quer a gente goste ou não deles. A escola oferece também regras e valores que vão ser necessários durante toda a vida da criança. Ressalto que a família também ensina, mas a riqueza é maior na diversidade, pois é nesta hora que surgem os dilemas, e eles proporcionam a aprendizagem. Além de complementarem os valores que a criança recebe em casa.
Na escola a criança tem a oportunidade de criar uma “identidade estudantil”, uma postura de estudante muito necessária, porque a aprendizagem é algo doído, é quando enfrentamos a frustração de não saber algo, e é preciso sermos incentivados a não desistir de aprender. E o fato de estar em grupo, com perguntas diferentes, em que a criança precisa assimilar estes novos conhecimentos e ao mesmo tempo articular suas perguntas, isso é fundamental para seu desenvolvimento.
No universo escolar a criança convive também com uma série de profissionais da educação, num ambiente que a leva – ou deveria levar – a ter persistência para estudar. A gente não aprende só o que gosta. O que favorece a aprendizagem é a necessidade daquela informação para resolver algo. E até o que parece ser chato,, com uma mediação bem feita, pode acabar nos conquistando. E, consequentemente, ampliando nosso repertório e visão de mundo.
A escola fornece algo indispensável para o desenvolvimento da atividade intelectual, um ambiente que seja favorável a isso. Temos, por exemplo, crianças que vivem em países bilíngues e se expressam naturalmente nas duas línguas. Quero dizer que nós, seres humanos, nascemos com condições para falar, mas o quê e como falaremos depende de onde estamos inseridos.
Nem mesmo os casos de bullying, acredito, são motivo para afastar a criança da vida escolar. Com a devida intervenção de professores e funcionários, o estudante “vitimizado” pode fortalecer sua autoestima, e se preparar para um futuro mercado de trabalho, onde o bullying pode ser muito mais incisivo que na escola.
Nosso sistema escolar tem muito a ser melhorado – e, pautada nisso, entendo a razão pela qual algumas famílias optam em tirar os filhos da escola. Mas ela ainda é, acredito, a melhor forma de uma criança fazer a transição da vida familiar para uma vida social. Por isso, não vejo benefício em afastar uma criança das infinitas possibilidades – e dos infinitos desafios – de um ambiente escolar, no qual um profissional bem preparado possa ajudar esta criança a continuar sua realização como pessoa.
Por enquanto, acredito que o ideal seria que as famílias fossem para as escolas nos momentos de reunião coletiva ou individual e cobrassem as ações e as responsabilidades dos envolvidos no processo. Assim, agiriam em consonância com os valores da escola.
Retirar as crianças da escola me faz pensar: o que seria da caneta se tiramos a carga dela?